As sociedades não constroem futuros prósperos porque esquecem o passado, mas porque lembram o que ocorreu para que erros não se repitam e acertos sejam faróis. Se queremos um futuro mais justo e feliz para o Brasil, precisamos não esquecer. É isso que me ocorre, como médico e parlamentar que construiu a vida pública militando no campo da saúde, no momento em que a CPI da Covid-19 conclui os seus trabalhos e apresenta o relatório final do que foi apurado.
A lista de absurdos e crimes cometidos contra a humanidade pelo presidente Jair Bolsonaro e seus asseclas precisa ser sistematicamente relembrada, para que a justiça seja feita e para que coisas deste tipo nunca mais se repitam: o atraso na compra de vacinas, o gabinete paralelo que funcionou nas entranhas do governo, as suspeitas de corrupção, o colapso do oxigênio no Amazonas, a disseminação de fake News, o escândalo da Prevent Senior, a farsa dos tratamentos precoces…
Ao mesmo tempo, a pandemia demonstrou a necessidade de se preservar e aprimorar o Sistema Único de Saúde (o SUS), em defesa, sobretudo, dos princípios da universalização, da integralidade e da equidade que nortearam a criação do sistema nos debates constituintes de 1988: todo cidadão tem direito à saúde e acesso a todos os serviços públicos de saúde; todas as pessoas devem ser atendidas desde as necessidades básicas, de forma integral; e devemos reconhecer as diferenças nas condições de vida e saúde e nas necessidades das pessoas, já que o direito à saúde passa pelas diferenciações sociais e deve atender a diversidade que marca a população brasileira.
A pandemia não acabou e precisamos ainda nos cuidar. Avançamos na cobertura vacinal – expressão que se refere ao percentual da população que está vacinada – não por causa do governo federal, mas apesar dele. A população brasileira, historicamente, gosta de vacinas; o Programa Nacional de Imunizações (PNI) criado na década de 1970 é uma conquista pública bem sucedida que precisa ser valorizada, diante do avanço de negacionistas a serviço do obscurantismo.
Defender a ciência diante da sanha destruidora do governo (que enxerga os recursos destinados à área como gastos e não como investimentos fundamentais), reafirmar o acesso à saúde como um direito fundamental, combater as mentiras propagadas por arautos da morte é compromisso com a cidadania e a construção de um país melhor para os que virão. Não esqueceremos.
Artigo do deputado Chico D’Angelo (PDT-RJ) – para o “Fluminense”